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quarta-feira, agosto 22, 2007

Uma pergunta a Miguel Portas

Miguel Portas, eurodeputador e dirigente do Bloco de Esquerda, tem-se distinguido pela defesa daquilo que considera ser o «legítimo direito à desobediência civil» por parte dos energúmenos que vandalizaram a plantação de milho no Algarve. A este respeito, gostava de colocar uma questão a Miguel Portas:

Se um grupo de ‘activistas pacíficos’ de extrema direita lhe vandalizasse a casa, o escritório ou o carro, também defenderia o direito deles à “legítima desobediência civil”? Ou o direito à desobediência é algo que varia consoante as causas e as cores políticas?

É triste como alguma esquerda ainda pensa que os fins justificam os meios. F.A.

terça-feira, maio 29, 2007

As manhãs da rádio

A viagem matinal para o emprego tornou-se um verdadeiro prazer desde que comecei a sintonizar o Rádio Clube Português.
Além de notícias diárias que são fruto de investigação cuidada, esta estação tem um bom painel de comentadores e um notável espírito de intervenção social (o tema deste mês tem sido a luta contra a fome).
A chegada do jornalista João Adelino Faria ao RCP marcou a diferença. A sua calma transmite-se de imediato quer aos entrevistados quer aos ouvintes, tornando uma entrevista ao líder da CGTP tão agradável de ouvir quanto uma conversa com uma missionária que esteve em Moçambique. Fiquei a conhecer a actividade de pessoas que raramente partilham as suas experiências interessantes, como por exemplo os nossos militares que participam em missões de Paz um pouco por todo o globo.
Com o RCP, todas as manhãs são manhãs de descoberta: sinto que os meus horizontes se expandem um pouco mais e chego ao trabalho com uma energia muito especial.
RM

quarta-feira, abril 18, 2007

Os inimigos da liberdade têm muito em comum

Passou quase despercebida, há alguns dias, uma mini-polémica em torno da alegada participação de gente do Bloco de Esquerda numa lista de extrema-direita que se candidatou à direcção de uma associação académica de uma faculdade lisboeta. Tudo começou quando uma dirigente da lista disse ao Público que a candidatura que integrava era «plural», incluindo mesmo «pessoas do Bloco de Esquerda».

Embora consciente que as pessoas em questão seriam meros simpatizantes e não militantes do Bloco, não fiquei espantado com o facto de gente de extrema-esquerda participar numa lista fascista. Isto porque estes tipos têm mais coisas em comum do que se possam pensar à primeira vista: são contra a globalização e o capitalismo, têm aversão aos Estados Unidos, não acreditam numa Europa liberal e atlantista, gostam da ‘luta de rua’ e desprezam a democracia liberal. Além disso, admiram todo e qualquer tirano que se oponha aos Estados Unidos e ao capitalismo (como Fidel, Chavez, Mugabe ou o nosso anti-liberal Salazar), muitas vezes fechando os olhos a atrocidades que depressa justificam como necessárias para atingir nobres fins. Não foi por acaso que Mussolini começou a sua carreira política num grupelho de extrema-esquerda, ou que a palavra nazi é a abreviatura de ‘nacional socialista’.

Actualmente, o que mais me preocupa não é o ridículo cartaz do PNR no Marquês de Pombal ou a vitória de Salazar num concurso sem importância. O mais me preocupa é a crescente descrença dos jovens na democracia, a par da admiração pelos homens fortes e providenciais e de um cada vez mais poderoso activismo que tem como objectivo construir um mundo perfeito. Ora não há mundos perfeitos… aliás, da última vez que certas almas bem-intencionadas os tentaram construir, acabaram por criar verdadeiros infernos.

F.A.

domingo, abril 15, 2007

A força da Verdade

O Ex-ministro Nuno Morais Sarmento surpreendeu todo o país há vários anos atrás quando, pouco tempo após a sua nomeação para o Governo de Durão Barroso, confessou com toda a coragem que tinha sido consumidor de drogas duras no passado. O assunto chocou o país, mas o facto de aquele homem ter assumido o seu grande erro perante todos, sem hipocrisia e sem deixar qualquer tipo de dúvidas, levou a que em pouco tempo o assunto fosse esquecido para sempre.
A grande lição que esse episódio me deu foi sobre a importância de assumir os erros em política antes que a sua ocultação se torne ela própria num erro mil vezes maior.
O actual primeiro-ministro recusa-se a admitir os seus erros pessoais e tem investido todas as suas energias na sua negação. A bola de neve que criou não o vai soterrar, mas destruiu a sua credibilidade perante muitos cidadãos que até agora tinham aceite a sua enorme arrogância, pois tomavam essa soberba por seriedade.
RM

sábado, fevereiro 17, 2007

Bem vindos ao século XXI, com ideias do século XIX

O ridículo cartaz que o Bloco de Esquerda fez questão de apresentar na noite do referendo diz muito sobre a natureza mais profunda do movimento. A extrema Esquerda sempre acreditou, de forma quase messiânica, que a História caminha obrigatoriamente num determinado sentido... o dela, evidentemente. Veja-se o caso de Álvaro Cunhal, que tendo vivido décadas nos países do 'socialismo real' e conhecido os horrores do Estalinismo, nunca deixou de acreditar na vitória final.

Antigamente, a Esquerda acreditava que o culminar da História seria a sociedade sem classes e a ditadura do proletariado. Com a queda do Muro, e à falta de melhor, agarrou-se às 'causas fracturantes' e ditas progressistas, como o aborto livre, as uniões de facto, o casamento e a adopção gay, o eco-fundamentalismo, os direitos das 'trabalhadoras do sexo', os sinais de trânsito com figuras de ambos os sexos, etc, etc. A lista é quase infindável, mas ainda assim revela uma enorme falta de imaginação dos partidos e grupos de jotas que têm nestas causas as suas principais bandeiras. E revela, ainda, uma enorme sede religiosa. Sem fé num Deus pessoal, muita gente precisa desesperadamente de algo a que se agarrar. Por exemplo, a luta contra o aquecimento global é hoje, para muitos, uma forma de jihad*.

Concluindo, e voltando ao início, não creio que a Esquerda Libertária represente o futuro. Pelo contrário. O futuro - e a demografia vai tratar disso -, vai certamente pertencer a outros.


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(*) - no sentido que o Islão 'moderado' dá ao termo.

E eis que a máscara caíu

«Não faz sentido que reivindique a criação de um sistema de aconselhamento para que eventuais estruturas criadas pelo ‘não’ manobrem para impedir a liberdade de decisão das mulheres» (Odete Santos, deputada do PCP)

«[O aconselhamento] Não passa de uma manobra para impor, mais uma vez, a moral particular de alguns ao universo do direito dos cidadãos» (Francisco Louçã, o Savonarola da extrema-esquerda indígena)


É curioso que estas declarações apenas surjam já depois do referendo que deu a vitória ao Sim. Antes do plebescito, estes senhores fartavam-se de dizer que todos somos contra o aborto e que o objectivo do Sim não era facilitar a prática do dito. Diziam que o aborto é um mal, uma tragédia, um suplício para as mulheres, e que o que estava em causa no referendo era apenas o fim do aborto clandestino. Bull shit. Vieram com estas falinhas mansas porque sabiam que a maioria dos portugueses é contra o aborto livre. Era necessário conquistar os moderados, e daí o discurso soft.

Mas eis que agora, que a vitória foi alcançada e que «entramos no século XXI», estes senhores mostram a verdadeira face. Descobrimos agora que o que está realmente em causa não é o drama das mulheres forçadas a recorrer a parteiras de vão de escada. O objectivo desta gente sempre foi, pura e simplesmente, a conquista do direito ao aborto livre.

Eles não querem saber de aconselhamento nem tão pouco ouvir falar de apoio às mulheres grávidas, que as possa dissuadir de praticar o aborto. Para esta gente, instituições como a Ajuda de Berço (que ajudaram milhares de mulheres a criarem condições para terem os seus filhos, desde 1998), são instrumentos perversos que «menorizam as mulheres».

Uma mulher está indecisa quanto a fazer um aborto. Tem medo que o namorado a deixe, que a família não aprove a gravidez ou que o patrão a despeça. E qual é única solução defendida por estes paladinos do progressismo? O aborto. A morte da criança que traz no ventre. Nem uma só palavra de conselho ou de encorajamento no sentido de levar a gravidez por diante. A morte é a única solução.

E depois ainda têm a lata de chamar hipócritas aos 40% de eleitores que votaram Não…

segunda-feira, janeiro 29, 2007

O Dilema

Volto a repetir: creio que o que está verdadeiramente em causa neste referendo é responder ao terrível dilema a que aludi no meu post anterior. O que é mais importante? A vida intra-uterina ou o bem estar físico e psicológico da mulher grávida?

Ora um dilema é um problema com duas soluções, sendo que nenhuma delas é 100% aceitável. Compreendo, no entanto, que muita gente que está consciente deste dilema vote 'Sim'. Eu voto 'Não'. O que não compreendo é que o «debate» seja dominado por questões laterais, algumas das quais bastante duvidosas do ponto de vista intelectual.

Os apoiantes do 'Sim' servem-se destes «argumentos» para conquistar o eleitorado 'moderado'. É o caso de frases como os estafados «estamos todos contra o aborto» e «ninguém é a favor do aborto», que de quando em quando são interrompidos por slogans do género «na minha barriga mando eu!».

Se os apoiantes do 'Sim' querem que a mulher seja livre de abortar simplesmente porque 'sim', assumam-no. Mas não venham com argumentos desonestos, que servem apenas para confundir e iludir as pessoas.

Importa, por isso, desmitificar as coisas:

1. O aborto clandestino não vai acabar ou tornar-se residual, caso o 'Sim' vença. Vão continuar a realizar-se aos milhares, por esse país fora, após as dez semanas.

2. O número de abortos vai provavelmente aumentar, à semelhança do que aconteceu no resto da Europa, porque se vai tornar uma coisa fácil e, quiçá, banal.

3. É possível despenalizar sem liberalizar (da mesma forma que o consumo de droga está despenalizado, mas não liberalizado). O que o Sim quer, na verdade, é que o aborto não só seja despenalizado, como passe a ser um direito e, ainda para mais, pago pelo Estado.

domingo, janeiro 28, 2007

Sabia que...

Para um voto consciente.

Cinco razões para o meu Não

  1. O que está em causa no referendo ao aborto não é a despenalização. O que está verdadeiramente em causa é a liberalização, pura e simples. Ora é possível despenalizar sem liberalizar. A solução passa por despenalizar o aborto e, ao mesmo tempo, desencorajá-lo. E ainda, apoiar as mulheres em dificuldades, proteger a maternidade no emprego e incentivar a adopção.
  2. O aborto clandestino não vai terminar, caso o ‘Sim’ vença. Milhares de mulheres vão continuar a abortar de forma clandestina, antes e além das 10 semanas.
  3. Ao contrário do que afirmam os defensores do ‘Sim’, a experiência dos países europeus onde a prática é legal demonstra que a liberalização conduziu ao aumento do número de abortos. Em Espanha, segundo o insuspeito Eurostat, o número de abortos cresceu 375% (!) nos sete anos após a liberalização. No país em que a pílula do dia seguinte é usada massivamente como meio contraceptivo, nada de bom virá da liberalização do aborto.
  4. Creio que apenas por excesso de wishfull thinking poderemos esperar moderação no recurso ao aborto, caso o Sim vença, tendo em que conta que não a temos em tudo o resto.
  5. Há muitas coisas más no mundo, contra as quais nenhuma lei é 100% eficaz. Mas isso não significa que as devemos despenalizar e liberalizar, pois não?

Por fim, creio que o cerne da questão não foi ainda discutido nesta campanha. A verdadeira questão que será colocada aos portugueses no dia 11 de Fevereiro será a seguinte: o que é mais importante? A vida de um ser humano indefeso – ainda que em formação, ou em potência -, ou o bem estar físico e psicológico da mulher que o concebeu? Para quem tiver um mínimo de consciência, este é um terrível dilema (conceito em que existem duas soluções para um determinado problema, sendo que nenhuma delas é aceitável).

A minha esperança é que, dos dois lados da barricada, cada um de nós responda a este dilema de forma reflectida.